quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

FEITO NO ESCURO

FEITO NO ESCURO...
 

Ele era branco, e ela branca,
Ambos claros como a luz...
Casaram. Baile de arranca,
E pagodeira de truz...
O mais formoso dos ninhos
Era a casa, à beira-mar,
Onde, como dois pombinhos,
Foram os dois arrulhar.
Só eles... e um cozinheiro,
Que era o crioulo Manuel,
Crioulo lesto e ligeiro,
Obediente... e fiel.
Ali, Amor assentava
Os seus doces arraiais,
E o mar, gemendo, invejava
Aqueles beijos... e o mais.
.....................................................
Nove meses decorridos,
Uma notícia correu:
Escutaram-se os vagidos...
E o morgadinho nasceu!
Que horror! que espanto! o menino,
Filho daquela afeição,
Era belo e pequenino,
Mas... preto como carvão!...
O marido, ardendo em chama,
Fígado cheio de fel,
Quer, ali mesmo na cama,
Estrangular a infiel.
Ela, porém, que o conhece,
Pergunta: — “Você que tem?
“Você maluco parece...
“Reflita um pouco, meu bem!
“Bem lhe eu dizia, homem duro!
“Porém, você a teimar...
“Olhe! o que é feito no escuro,
“Sempre há-de de escuro ficar!
“Pois... o pobre pequenino...
“Feito de noite... bem se vê...
Cada qual tem seu destino....
“O culpado foi você...”.
Tudo acaba em alegria...
Mas o Manuel, no fogão,
Malicioso sorria,
E temperava o feijão.

O V A S O

                              O VASO
 
                             Oh! o lindo, o lindo vaso que Celina possuía! e com que carinho, com que meiguice tratava ela as flores daquele vaso, o mais belo de toda a
aldeia!
Levava-o a toda a parte: e, no seu ciúme, na sua avareza, não queria
confiá-lo a ninguém, com medo de que mãos profanas estragassem as raras flores que nele viçavam. Ela mesma as regava, de manhã e à noite: ela mesma as catava cuidadosamente todos os dias, para que nenhum inseto as
roesse ou lhes poluísse o acetinado das pétalas. E em toda a aldeia só se
falava do vaso de Celina. Mas, a rapariga, cada vez mais ciosa do seu
tesouro, escondia-o, furtava-o às vistas de todo o mundo. Oh! o lindo, o
lindo vaso que Celina possuía!
Certa vez, (era por ocasião das colheitas) Celina acompanhou as outras
raparigas ao campo. A manhã era esplêndida. O sol inundava de alegria e de
luz a paisagem. E as raparigas iam cantando, cantando; e as aves nas
árvores, gorjeando, e as águas do riacho nos seixos da estrada,
murmurando, faziam coro com elas. E Celina levava escondido seu vaso. Não
quisera deixá-lo em casa, exposto à cobiça de algum gatuno. E os rapazes
diziam: “Aquela que ali vai é Celina, que possui o mais belo vaso da
aldeia...”
Por toda a manhã, por toda a tarde, a faina da colheita durou. E,
quando a noite desceu, cantando e rindo as raparigas desfilaram, de volta à
aldeia. Celina, sempre retraída, sempre afastada do convívio das outras,
deixou-se ficar atrasada. E, sozinha, pela noite escura e fechada, veio
trazendo o seu vaso precioso...
Dizem na aldeia que aqueles caminhos são perigosos: há por ali,
rodando nas trevas, gênios maus que fazem mal às raparigas...
Não se sabe o que houve: sabe-se que Celina, chegando à casa, tinha
os olhos cheios de lágrimas, e queixava-se, soluçando, de que haviam
roubado as flores do seu vaso. E não houve consolação que lhe valesse, não
houve carinho que lhe acalmasse o desespero. E os dias correram, e
correram as semanas, e correram os meses, e Celina, desesperada, chorava
e sofria: “Oh! as flores! as flores do meu vaso que me roubaram!...”
Mas, no fim do nono mês, Celina consolou-se. Não tinha recuperado as
flores perdidas... mas tinha nos braços um pimpolho. E o João das Dornas,
um rapagão que era o terror dos pais e dos maridos, dizia à noite, na
taverna, aos amigos, diante dos canecos de vinho:
— Ninguém roubou as flores da rapariga, ó homens! eu é que lhes fiz
uma rega abundante, por que não admito flores que estejam toda a vida
sem dar frutos...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

AS SETE VERDADES DO BAMBU

AS SETE VERDADES DO BAMBU

Depois de uma grande tempestade, o menino que estava passando férias na casa do seu avô, o chamou para a varanda e falou: Vovô, corre aqui ! 

Me explica como esta figueira, árvore frondosa e imensa, que precisava de quatro homens para abraçar seu tronco se quebrou, caiu com vento e com chuva, e...

...este bambu tão fraco continua de pé ? Filho, o bambu permanece em pé porque teve a humildade de se curvar na hora da tempestade. A figueira quis enfrentar o vento. O bambu nos ensina sete coisas. Se você tiver a grandeza e a humildade dele, vai experimentar o triunfo da paz em seu coração.

A primeira verdade que o bambu nos ensina, e a mais importante, é a humildade diante dos problemas, das dificuldades. Eu não me curvo diante do problema e da dificuldade, mas diante daquele, o único, o princípio da paz, aquele que me chama, que é o Senhor.

Segunda verdade: o bambu cria raízes profundas. É muito difícil arrancar um bambu, pois o que ele tem para cima ele tem para baixo também. Você precisa aprofundar a cada dia suas raízes em Deus na oração.

Terceira verdade: Você já viu um pé de bambu sòzinho? Apenas quando é novo, mas antes de crescer ele permite que nasça outros a seu lado (como no cooperativismo). Sabe que vai precisar deles. Eles estão sempre grudados uns nos outros, tanto que de longe parecem com uma árvore. Às vezes tentamos arrancar um bambu lá de dentro, cortamos e não conseguimos. Os animais mais frágeis vivem em bandos, para que desse modo se livrem dos predadores.

A quarta verdade que o bambu nos ensina é não criar galhos. Como tem a meta no alto e vive em moita, comunidade, o bambu não se permite criar galhos. Nós perdemos muito tempo na vida tentando proteger nossos galhos, coisas insignificantes que damos um valor inestimável. Para ganhar, é preciso perder tudo aquilo que nos impede de subirmos suavemente.

A quinta verdade é que o bambu é cheio de “nós” ( e não de eu’s ). Como ele é ôco, sabe que se crescesse sem nós seria muito fraco. Os nós são os problemas e as dificuldades que superamos. Os nós são as pessoas que nos ajudam, aqueles que estão próximos e acabam sendo força nos momentos difíceis. Não devemos pedir a Deus que nos afaste dos problemas e dos sofrimentos. Eles são nossos melhores professores, se soubermos aprender com eles.

A sexta verdade é que o bambu é ôco, vazio de si mesmo. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que nos preenche, que rouba nosso tempo, que tira nossa paz, não seremos felizes. Ser ôco significa estar pronto para ser cheio do Espírito Santo.

Por fim, a sétima lição que o bambu nos dá é exatamente o título do livro: ele só cresce para o alto. Ele busca as coisas do Alto. Essa é a sua meta.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

UMA HISTÓRIA DE AMOR

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Era uma vez uma ilha, onde moravam os seguintes sentimentos: a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria, o Amor e outros.
Um dia avisaram para os moradores desta ilha que ela ia ser inundada. Apavorado, o Amor cuidou para que todos os sentimentos se salvassem; então ele falou:
- Fujam todos, a ilha vai ser inundada!!!
Todos correram e pegaram seus barquinhos para irem para um morro bem alto.
 Só o Amor não se apressou, pois queria ficar um pouco mais com sua ilha. Quando já estava se afogando, correu para pedir ajuda.
Estava passando a Riqueza e ele disse:
-Riqueza, leve-me com você. Ela respondeu:
- Não  posso, meu barco esta cheio de ouro e prata e você não  vai caber.
Passou então  a Vaidade e ele pediu:
- Oh! Vaidade, leva-me com você...
- Não posso, vai sujar meu barco. Logo atrás vinha a Tristeza.
- Tristeza, posso ir com você
- Ah! Amor, estou tão triste que prefiro ir sozinha.
Passou a Alegria, mas estava tão alegre que nem ouviu o Amor chamar por ela.
Já desesperado, achando que ia ficar só, o Amor começou a chorar.
Então passou um barquinho, onde estava um velhinho, então ele falou:
- Sobe, Amor que eu te levo.
O Amor ficou radiante de felicidade que esqueceu de perguntar o nome do velhinho
Chegando ao morro alto onde estavam os sentimentos, ele perguntou a Sabedoria:
-Sabedoria, quem era o homem que me trouxe aqui Ela respondeu:
- O Tempo.
- O Tempo?  Mas porque só o Tempo me trouxe aqui ?
- Porque só o Tempo é capaz de entender um grande Amor...
  (autor desconhecido)



sábado, 18 de fevereiro de 2012

O T O L O


O Tolo

                  
Conta-se que numa pequena cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates e esmolas.
Diariamente eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas - uma grande de 400 réis e outra menor, de dois mil réis. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

"Eu sei" - respondeu o não tão tolo assim - "ela vale cinco vezes menos, mas
no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar
minha moeda."


Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.

A primeira: quem parece idiota, nem sempre é. Dito em forma de pergunta:
quais eram os verdadeiros tolos da história?

Outra: se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

Mas a conclusão mais interessante, a meu ver, é a percepção de que podemos
estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.

Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas o que realmente
somos.

"O maior prazer de um homem inteligente é bancar o
idiota diante de um idiota que banca o inteligente".

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DISCURSO SEM "A"


 DISCURSO SEM  "A"


Discurso pronunciado no Instituto Histórico da Bahia pelo ilustre homem de letras, Dr. Antonio de Sá, no qual não foi empregada uma só vez a letra "A", vogal usadíssima e julgada quase imprescindível na escrita fluente.

"Meus ilustres e digníssimos consócios. Meus senhores.
Muito humilde sócio que vou ser deste Instituto, eu vos direi sem orgulho que me oculte; errou no que pretendeu, perdeu no que colime, esse que de mim muito esperou em prol deste luzido grêmio, que sem o meu débil concurso, vive com brilho e vence com fulgor.
Sim; porque eu, que neste momento vos dirijo um verbo simples e despretensioso, cumprindo somente o desejo de exprimir o sentimento de pupilo de que me possuo, por ter sido no vosso doce e utilíssimo convívio, no meu viver, quer como homem público, quer como eficiente de um tempo ido, sem dons que me nobilitem, sem luzes que me guiem no presente no presente em rumo do futuro; em pouco, em muito pouco, posso proteger o curso luminoso deste conjunto de homens eminentes, deste grêmio benemérito, por isso que, nem de leve fulgem em mim resquícios de primor.
Fizestes, escolhendo-me vosso consócio, como os espíritos superiores, que por isso mesmo surtem vôos sobre míseros preconceitos.
Eis o motivo por que eu me deixei prender nos elos do vosso gentil convite, e devo dizer-vos, sincero, quem fui, quem sou e quem serei, vencendo o pórtico deste templo, repleto de fulgores.
Quem fui? O débil rebento de um tronco bom e sobretudo honesto, em cujo viver de espírito só de virtudes vi florirem, e vícios nem de longe.
Eduquei-me sob o influxo do bem e tive por complemento dos meus humildes e virtuosos genitores um excelente mestre, conhecido de todos vos, que tem sido entre nós erguido em mil louvores, que nem lhe podem dizer bem o seu merecimento entre os velhos, entre os moços e entre os que recebem no presente o brilho de eleitos, fulgindo como um sol que incidisse nos pequenos cérebros sequiosos de luz.
Do colégio, de que conservo vivo o exemplo do bom e do honesto fui vencer o tirocínio superior, onde, por muito feliz, entre docentes e condiscípulos tive desde o início, Orivindo, felinto, Leovigildo e Guerreiro, homens sem deslizes, em meio de muitos outros discentes como eu.
Tenho por mim neste recinto quem vos pode dizer se me exprimo bem ou se sou sincero neste ponto.
Depois, colhidos os louros de um torneio vencido, penetrei no mundo de desilusões, supondo, ingênuo que fui, fosse o viver um eterno sofrer. Dentro em pouco, porém, vi que o sorriso dos moços nem sempre é prenúncio de um futuro venturoso e sim o prólogo de um sofrer contínuo ou de um existir repleto de desgostos.
E eu sofri...
Sem que desperte dores no recesso do meu peito, eu vos direi: fúnebre dobre de sino, ouvido por mim, filho extremoso, pelo espírito desse que me deu o ser e que se foi, morrendo como um justo, entre outros golpes bem fundos foi o primeiro que me fez sentir negrumes no viver. Superior, porém, eu fui vencendo os óbices do existir tendo como tive e felizmente tenho, consorte e filhos, meus enlevos, que me impelem, cheio de vigor, pelo trilho em que me tenho conduzido neste mundo rico de dores, e pobre mesmo, de momentos felizes como este, no vosso convívio.
Quem sou? Um pequeno servo de Themis, que fiz do Direito em si, o ponto em que reside mesmo o bem dos homens e que deus quis fosse tido por nós, como virtudes e que dele mesmo nos viu, por intermédio dos conhecimentos que todos devemos ter dos nossos e dos direitos dos outros.
Eu vos disse no princípio, que tínheis feito de mim um juízo imerecido,escolhendo-me vosso consócio. Disse e repito. Fostes bons e fostes generosos em excesso.
Com o serdes gentis, erguestes m simples, cioso de tudo, dos estudos que elevem e dignifiquem, por meio dos conhecimentos científicos, vendo, ouvindo e lendo, como se, de cérebro sem luz, seguisse, sem temores, no intuito de vencer.

" D E U S "

                    “DEUS”

Passei tanto tempo te procurando......
Não sabia onde estavas, olhando para o infinito, não Te via...
E pensava comigo mesmo, será que Tu existes !
Não me contentava na busca e prosseguia,
Tentava Te encontrar nas religiões e nos templos
Tu também não estavas.
Te busquei através dos sacerdotes e pastores,
Também não Te encontrei.
Senti-me só, vazio, desesperado e descri.
E na descrença, Te ofendi,
E na ofensa tropecei,
E no tropeço caí,
E na queda senti-me fraco.
Fraco  procurei socorro
No socorro encontrei amigos,
Nos amigos encontrei carinho,
No carinho eu vi nascer o amor
Com amor eu vi um mundo novo.
E no mundo novo resolvi viver,
O que recebi, resolvi doar
Doando alguma, coisa muito recebi.
E, em recebendo, senti-me feliz,
E ao ser feliz, encontrei a paz
E tendo a paz foi que enxerguei
Que dentro de mim é  que Tu estavas
E sem procurar-Te
Foi que Te encontrei.

sábado, 6 de março de 2010

COMO OS CÃES


                              COMO OS CÃES
— Não é possível, senhora! — dizia o comendador à esposa — não épossível!
— Mas se eu lhe digo que é certo, seu Lucas! — insistia a D. Teresa —
pois é mesmo a nossa filha quem m’o disse!
O comendador Lucas, atônito, coçou a cabeça:
— Oh! senhora! mas isso é grave! Então o rapaz já está casado com a menina há dois meses e ainda...
— Ainda nada, seu Lucas, absolutamente nada!
— Valha-me Deus! Enfim, eu bem sei que o rapaz, antes de casar,nunca tinha andado pelo mundo...  sempre agarrado às saias da tia... sempre metido pelas igrejas.
— Mas — que diabo! — como é que, em dois meses, ainda o instinto não lhe deu aquilo que a experiência já lhe devia ter dado?! Enfim, vou eu mesmo falar-lhe! Valha-me Deus!
E, nessa mesma noite, o comendador, depois do jantar, chamou à fala o genro, um moço louro e bonito, dono de uns olhos cândidos...
— Então, como é isso, rapaz? tu não gostas de tua mulher?
— Como não gosto? Mas gosto muito!
— Tá tá tá... Vem cá! que é que tu lhe tens feito, nestes dous meses?
— Mas... tenho feito tudo! converso com ela, beijo-a, trago-lhe frutas,
levo-a ao teatro... tenho feito tudo...
— Não é isto, rapaz, não é somente isso! o casamento é mais que
alguma cousa! tu tens de fazer o que todos fazem, caramba!
— Mas... não entendo...
— O´ homem! tu precisas... ser marido de tua mulher!
— ... não compreendo...
— Valha-me Deus! tu não vês como os cães fazem na rua?
— Como os cães? ... como os cães?... sim... parece-me que sim...
— Pois, então? Faze como os cães, pedaço de moleirão, faze como os
cães! E não te digo mais nada! Faze como os cães...!
— E, ao deitar-se, o comendador disse à esposa, com um risinho
brejeiro:
— Parece que o rapaz compreendeu, senhora! e agora é que a menina
vai ver o bom e o bonito...

* *
Uma semana depois, a Rosinha, muito corada, está diante do pai, que a
interroga. O comendador tem os olhos esbugalhados de espanto:
— Que, rapariga? pois então, o mesmo?
— O mesmo... ah! é verdade! houve uma coisa que até me espantou... ia-me esquecendo... houve uma cousa... esquisita...
— Que foi? que foi? — exclamou o comendador — que foi?... eu logo vi que devia haver alguma cousa!
— Foi uma cousa esquisita... Ele me pediu que ficasse... assim...
assim... como um bicho... e...
— E depois? e depois?
— E depois... depois... lambeu-me toda... e...
— ...e?
— ... e dormiu!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

OS ANÉIS (Contos para velhos)

OS ANÉIS
A bela sociedade, a sociedade alegre, composta de rapazes e de
raparigas, estava reunida em roda da larga mesa da sala de jantar,
convertida em mesa de jogo. A velha mãe das raparigas, a gorda Sra.
Manuela Matias, bem sabia que aquelas noitadas de víspora e chá lhe
custavam os olhos da cara... mas que havia de fazer a Sra. Manuela Matias?
— morrera-lhe o marido, deixando-lhe aquelas seis filhas, e — com todos os
diabos! — era preciso casar as raparigas, pois não era? E ali estava a boa
viúva à cabeceira da larga mesa da sala de jantar, embrulhada no seu xaile
de ramagens, vigiando as filhas, que, ao lado dos namorados, iam cobrindo
com os grãos amarelos do milho os cartões do víspora...
Cacilda, a mais velha, (vinte anos, dizia ela; vinte e cinco, diziam as
más línguas) estava ao lado do louro Eduardo, um janota que, às vezes, no
flirt inocente com meninas solteiras, descansa das aventuras mais práticas
com as casadas... Juntos, juntinhos, inclinados sobre os cartões — tão
juntinhos que, de quando em quando, as suas cabeças se tocavam e seus
hálitos se confundiam... E os outros pares iam marcando os números... E
Cacilda e Eduardo — que caiporismo! — tinham os cartões descobertos,
tinham o monte de grãos de milho intacto, sobre a toalha da mesa... E a boa
senhora Manuela Martins, cochilando, embrulhada no seu bonito xaile de
ramagens, presidia àquele divertimento inocente. Então? era preciso casar as
raparigas, pois não era?
De repente, o louro Eduardo deixa escapar da garganta um grito de dor,
de angústia, de horror... E, muito pálido, o louro Eduardo aperta
apressadamente com as mãos a... barriga, enquanto Cacilda baixa a face
inundada de uma onda de rubor.
— Que foi?
— Que foi?
— Que foi?
— Nada... uma dor que me deu... já passou... já passou...
...........................................................................................................
........................................
E, à saída, depois do chá, o louro Eduardo confia ao seu amigo Américo
o segredo do seu grito. E Américo, entre duas risadas, indaga:
— ... com as unhas?
— Qual com as unhas, filho! com os anéis! Eu não sei para que é que
aquela rapariga quer tantos anéis na mão direita! Estou todo arranhado...

Auto Ajuda: Neste Novo Dia...


Ó C U L OS ...


                                              OS ÓCULOS
O velho e austero doutor Ximenes, um dos mais sábios professores da
Faculdade, tem uma espinhosa missão a cumprir junto da pálida e formosa
Clarice... Vai examiná-la: vai dizer qual a razão da sua fraqueza, qual a
origem daquele depauperamento, daquela triste agonia de flor que murcha e
se estiola.
A bela Clarice!... É casada há seis meses com o gordo João Paineiras, o
conhecido corretor de fundos, — o João dos óculos —, como o chamam na
Praça por causa daqueles grossos e pesados óculos de ouro que nunca
deixam o seu forte nariz de ventas cabeludas. Há seis meses ela mingua, e
emagrece, e tem na face a cor da cera das promessas de igreja — a bela
Clarice. E — ó espanto! — quanto mais fraca vai ficando ela, mais forte vai
ficando ele, o João dos óculos, — um latagão que vende saúde aos quilos.
Assusta-se a família da moça. Ele, com seu imenso sorriso, vai dizendo que
não sabe... que não compreende... porque, enfim, — que diabo! — se a
culpa fosse sua, ele também estaria na espinha...
E é o velho e austero Dr. Ximenes, um dos mais sábios professores da
Faculdade, um poço de ciência e discrição, quem vai esclarecer o mistério.
Na sala, a família ansiosa espia com rancor a gorda face do João impassível.
E na alcova, demorado e minucioso exame continua.
Já o velho doutor, com a cabeça encanecida sobre a pele nua do peito
da enferma, auscultou longamente os seus pulmões delicados: já, levemente
apertando entre os dedos aquele punho macio e branco, tateou o pulso,
tênue como um fio de seda... Agora, com o olhar arguto, percorre a pele da
bela Clarice — branca e cheirosa pele — o colo, a cinta, o resto... De repente
— que é aquilo que o velho e austero doutor percebe na pele, abaixo...
abaixo... abaixo do ventre?... Leves escoriações, quase imperceptíveis
arranhaduras avultam aqui e ali vagamente... nas coxas...
O velho e austero doutor Ximenes funga uma pitada, coça a calva, olha
fixamente os olhos da sua doente, toda alvoroçada de pudor:
— Isto que é, filha? Pulgas? Unhas de gato?
E a bela Clarice, toda de confusão, enrolando-se no penteador de
musselina como n’uma nuvem, balbucia, corando:
— Não! Não é nada... não sei... isto é... talvez seja dos óculos do João...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O L U A R

Add caption
O LUAR
Insone, a moça Luísa
Salta do leito, em camisa...
Verão! verão de rachar!
Calor! calor que devora!
Luísa vai dormir fora,
Ao luar...
Ardente noite estrelada...
Entre as plantas, descansada,
Põe-se Luísa a roncar.
Dorme toda a Natureza...
E que esplendor! que beleza
No luar!
Olha-a o luar com ciúmes...
E sabem vivos perfumes
Do jardim e do pomar:
E ela, em camisa, formosa,
Repousa, como uma rosa,
Ao luar!
Mas alguém (um fantasma ou gente?)
Chega-se prudentemente,
Para o seu sono espreitar...
— Alguém que, ardendo em desejo,
Lhe põe nos lábios um beijo,
6
6
Ao luar...
Ela dorme... coitadinha!
Nem o perigo adivinha,
Pobre! a dormir e a sonhar...
Sente o beijo... mas parece
Que é um beijo quente que desce
Do luar...
A lua (dizem-no os sábios...)
Também tem boca, tem lábios,
Lábios que sabem beijar.
Luísa dorme, em camisa...
Como é formosa a Luísa
Ao luar!
Vão depois correndo os meses,
Entre risos e revezes...
— Começa a moça a engordar...
Vai engordando, engordando...
E chora, amaldiçoando
O luar...
Já todo o povo murmura
E, na sua desventura,
Ela só sabe chorar;
Chora e diz que não sabia
Que tanto mal lhe faria
O luar...
O pai, que é homem sisudo,
Homem que percebe tudo,
Pergunta-lhe a praguejar:
“ Que é que tu tens, rapariga?!”
E ela: “ Eu tenho na barriga...
O luar!”

sábado, 11 de fevereiro de 2012

CURIOSIDADES DA MATEMÁTICA


Você Sabia...

-Um número composto só por algarismos 1, quando elevado a dois, proporciona um resultado, cujo número se inicia com algarismos crescentes, mas a meio do número começa a decrescer. Ora vejamos:
1112 = 12321
11112 = 1234321
111112 = 123454321
1111112 = 12345654321
11111112 = 1234567654321

- Repare nesta pirâmide sobreposta:
1 x 9 + 2 = 11
12 x 9 + 3 = 111
123 x 9 + 4 = 1111
1234 x 9 + 5 = 11111
12345 x 9 + 6 = 111111
123456 x 9 + 7 = 1111111
1234567 x 9 + 8 = 11111111
12345678 x 9 + 9 = 111111111
1 x 8 + 1 = 9
12 x 8 + 2 = 98
123 x 8 + 3 = 987
1234 x 8 + 4 = 9876
12345 x 8 + 5 = 98765
123456 x 8 + 6 = 987654
1234567 x 8 + 7 = 9876543
12345678 x 8 + 8 = 98765432
123456789 x 8 + 9 = 987654321

- Repare nesta pirâmide sobreposta:
1 x 9 + 2 = 11
12 x 9 + 3 = 111
123 x 9 + 4 = 1111
1234 x 9 + 5 = 11111
12345 x 9 + 6 = 111111
123456 x 9 + 7 = 1111111
1234567 x 9 + 8 = 11111111
12345678 x 9 + 9 = 111111111
1 x 8 + 1 = 9
12 x 8 + 2 = 98
123 x 8 + 3 = 987
1234 x 8 + 4 = 9876
12345 x 8 + 5 = 98765
123456 x 8 + 6 = 987654
1234567 x 8 + 7 = 9876543
12345678 x 8 + 8 = 98765432
123456789 x 8 + 9 = 987654321
Este número é um dos que se inserem na família dos números mágicos. Assim, se se multiplicar o 37 por 3 e seus múltiplos, teremos estes interessantes resultados:
37 x 3 = 111
37 x 6 = 222
37 x 9 = 333
37 x 12 = 444
37 x 15 = 555
37 x 18 = 666
37 x 21 = 777
37 x 24 = 888
37 x 27 = 999

- Para quem desconhece, um número perfeito é o que apresenta a particularidade de ser igual à soma de seus divisores – excluindo-se, evidentemente, o próprio número.
Por exemplo, o número 28 apresenta 5 divisores, menores que 28: 1, 2, 4, 7 e 14. A soma desses divisores: 1 + 2 + 4 + 7 + 14 é precisamente igual a 28.
Portanto, o número 28 pertence à categoria dos números perfeitos.
O número 6 também é perfeito, pois os divisores de 6 (menores que 6) são: 1, 2 e 3, cuja soma é 6.
Outro número, igualmente perfeito, é o 496. Vamos conferir. Os divisores de 496, menores que 496 são os seguintes: 1, 2, 4, 8, 16, 31, 62, 124 e 248. Ora, se somarmos esses números, o que acontece? Exactamente o número 496!

- O número 256 é o protagonista desta interessante amizade quadrática.
Vejamos: se somarmos os algarismos de 256 obtemos a soma 13.
O quadrado de 13 é 169. Somando agora os algarismos de 169 obtemos 16 e o quadrado de 16 é 256. Existe, portanto, entre os números 13 e 16 uma curiosa relação que se pode designar por amizade quadrática.
Se, porventura, os números falassem poderíamos até imaginar o seguinte diálogo: dizia o 16 ao 13: - Quero prestar-te uma homenagem.
O meu quadrado é 256 e a soma dos algarismos desse quadrado é 13. O 13, desvanecido, responderia: - Agradeço a tua simpatia. Quero mesmo retribuir a tua gentileza.
Repara que o meu quadrado é 169 e a soma dos algarismos desse quadrado é o 16.
- A amizade está presente até nos números!
Vejamos: os números 220 e 284, por exemplo.
O número 220 é divisível por 1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55 e 110.
Ou seja são esses os divisores de 220 menores que 220. Quanto ao número 284 é, por sua vez, divisível por 1, 2, 4, 71 e 142.
Isto é são os divisores de 284 menores que 284. Até aqui nada de especial!
Mas há no entanto uma coincidência notável entre esses números: ao somarmos os divisores de 220 obter-se-á uma soma igual a 284 e se somarmos os divisores de 284 o resultado será, curiosamente, 220.
Foi devido a esta relação aritmética que os números 220 e 284 foram considerados, pelos matemáticos, números amigos, porque cada um deles parece existir para servir e louvar o outro.

- Se você multiplicar 12345679 pelos multiplos de 9 dara estes resultados, veja:
12345679 x 9 = 11111111111111111
12345679 x 18 = 22222222222222222
12345679 x 27 = 33333333333333333
12345679 x 36 = 44444444444444444
12345679 x 45 = 55555555555555555
12345679 x 54 = 66666666666666666
12345679 x 63 = 77777777777777777
12345679 x 72 = 88888888888888888
12345679 x 81 = 99999999999999999
Colaboração: Renato R. G. nato.rg@terra.com.br
9x9+7=
88
98x9+6=888
987x9+5=8888
9876x9+4=88888
98765x9+3=888888
987654x9+2=8888888
9876543x9+1=88888888
98765432x9+0=888888888
Aqui está o padrão numérico que você pode obter com o 9:
999999x2=1.999.991
999999x3=2.999.997
999999x4=3.999.996
999999x5=4.999.995
999999x6=5.999.994
999999x7=6.999.993
999999x8=7.999.992
999999x9=8.999.991
-Quebra cabeça numérico;
1-Digite o número 37037.
2-Escolha um número entre 1 e 9. Mentalmente multiplique por 3
3-Multiplique 37037 pelo número que obteve. Por exemplo, se você pensou o 3, multiplicara por 9.
Se você escolheu o 8, multiplicará por 24.
O produto será formado só pelo número que você escolheu.
QUADRADO MÁGICO:
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42

S
T
A
N
I
S

Peça para uma pessoa circundar  um quadrado de quatro por quatro, como no modelo.
Enquanto a pessoa vai circundando o quadro, observe os pares de números em cantos opotos (3e 27) ou (6 e24). Some qualquer um desses pares e dobre a soma (60). Escreva sua resposta em um papel e guarde- o. Em seguida, dê estas instruções:
1- circule um dos números do bloco e faça um x nos números das linhas e das colunas do número circulado.
2- circule outro número que não tenha sido  circulado nem riscado.
3-risque todos os outros números da linha e da coluna do novo número circulado.
3- faça o mesmo mais duas vezes, até que todos os números do quadrado estejam marcados ou circulados.
Peça que a pessoa some o valor de todos os números circulados e então você ''adivinhara'' o resultado da soma, sem ter visto os números que ela circulou e os que ela assinalou com um x.
Tente fazer com tabelas maiores, mas sempre assinalar um quadrado de quatro x quatro.
Quadrado mágicos
8
1
6
12
5
10
3
5
7
7
9
11
4
9
2
8
13
6
14
7
12
18
11
16
9
11
13
13
15
17
10
15
8
14
19
12
Alguns palíndromos:
ovo- anilina - somávamos - Ana - raiar - Ele padece da pele.