sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DISCURSO SEM "A"


 DISCURSO SEM  "A"


Discurso pronunciado no Instituto Histórico da Bahia pelo ilustre homem de letras, Dr. Antonio de Sá, no qual não foi empregada uma só vez a letra "A", vogal usadíssima e julgada quase imprescindível na escrita fluente.

"Meus ilustres e digníssimos consócios. Meus senhores.
Muito humilde sócio que vou ser deste Instituto, eu vos direi sem orgulho que me oculte; errou no que pretendeu, perdeu no que colime, esse que de mim muito esperou em prol deste luzido grêmio, que sem o meu débil concurso, vive com brilho e vence com fulgor.
Sim; porque eu, que neste momento vos dirijo um verbo simples e despretensioso, cumprindo somente o desejo de exprimir o sentimento de pupilo de que me possuo, por ter sido no vosso doce e utilíssimo convívio, no meu viver, quer como homem público, quer como eficiente de um tempo ido, sem dons que me nobilitem, sem luzes que me guiem no presente no presente em rumo do futuro; em pouco, em muito pouco, posso proteger o curso luminoso deste conjunto de homens eminentes, deste grêmio benemérito, por isso que, nem de leve fulgem em mim resquícios de primor.
Fizestes, escolhendo-me vosso consócio, como os espíritos superiores, que por isso mesmo surtem vôos sobre míseros preconceitos.
Eis o motivo por que eu me deixei prender nos elos do vosso gentil convite, e devo dizer-vos, sincero, quem fui, quem sou e quem serei, vencendo o pórtico deste templo, repleto de fulgores.
Quem fui? O débil rebento de um tronco bom e sobretudo honesto, em cujo viver de espírito só de virtudes vi florirem, e vícios nem de longe.
Eduquei-me sob o influxo do bem e tive por complemento dos meus humildes e virtuosos genitores um excelente mestre, conhecido de todos vos, que tem sido entre nós erguido em mil louvores, que nem lhe podem dizer bem o seu merecimento entre os velhos, entre os moços e entre os que recebem no presente o brilho de eleitos, fulgindo como um sol que incidisse nos pequenos cérebros sequiosos de luz.
Do colégio, de que conservo vivo o exemplo do bom e do honesto fui vencer o tirocínio superior, onde, por muito feliz, entre docentes e condiscípulos tive desde o início, Orivindo, felinto, Leovigildo e Guerreiro, homens sem deslizes, em meio de muitos outros discentes como eu.
Tenho por mim neste recinto quem vos pode dizer se me exprimo bem ou se sou sincero neste ponto.
Depois, colhidos os louros de um torneio vencido, penetrei no mundo de desilusões, supondo, ingênuo que fui, fosse o viver um eterno sofrer. Dentro em pouco, porém, vi que o sorriso dos moços nem sempre é prenúncio de um futuro venturoso e sim o prólogo de um sofrer contínuo ou de um existir repleto de desgostos.
E eu sofri...
Sem que desperte dores no recesso do meu peito, eu vos direi: fúnebre dobre de sino, ouvido por mim, filho extremoso, pelo espírito desse que me deu o ser e que se foi, morrendo como um justo, entre outros golpes bem fundos foi o primeiro que me fez sentir negrumes no viver. Superior, porém, eu fui vencendo os óbices do existir tendo como tive e felizmente tenho, consorte e filhos, meus enlevos, que me impelem, cheio de vigor, pelo trilho em que me tenho conduzido neste mundo rico de dores, e pobre mesmo, de momentos felizes como este, no vosso convívio.
Quem sou? Um pequeno servo de Themis, que fiz do Direito em si, o ponto em que reside mesmo o bem dos homens e que deus quis fosse tido por nós, como virtudes e que dele mesmo nos viu, por intermédio dos conhecimentos que todos devemos ter dos nossos e dos direitos dos outros.
Eu vos disse no princípio, que tínheis feito de mim um juízo imerecido,escolhendo-me vosso consócio. Disse e repito. Fostes bons e fostes generosos em excesso.
Com o serdes gentis, erguestes m simples, cioso de tudo, dos estudos que elevem e dignifiquem, por meio dos conhecimentos científicos, vendo, ouvindo e lendo, como se, de cérebro sem luz, seguisse, sem temores, no intuito de vencer.

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