DISCURSO SEM "A"
Discurso
pronunciado no Instituto Histórico da Bahia pelo ilustre homem de letras, Dr.
Antonio de Sá, no qual não foi empregada uma só vez a letra "A", vogal
usadíssima e julgada quase imprescindível na escrita fluente.
"Meus
ilustres e digníssimos consócios.
Meus senhores.
Muito humilde sócio que vou ser deste Instituto, eu
vos direi sem orgulho que me oculte; errou no que pretendeu, perdeu no que
colime, esse que de mim muito esperou em prol deste luzido grêmio, que sem o meu
débil concurso, vive com brilho e vence com fulgor.
Sim; porque eu, que neste momento vos dirijo um verbo
simples e despretensioso, cumprindo somente o desejo de exprimir o sentimento de
pupilo de que me possuo, por ter sido no
vosso doce e utilíssimo convívio, no meu viver, quer como homem público, quer
como eficiente de um tempo ido, sem dons que me nobilitem, sem luzes que me
guiem no presente no presente em rumo do futuro; em pouco, em muito pouco, posso
proteger o curso luminoso deste conjunto de homens eminentes, deste grêmio
benemérito, por isso que, nem de leve fulgem em mim resquícios de
primor.
Fizestes, escolhendo-me vosso consócio, como os
espíritos superiores, que por isso mesmo surtem vôos sobre míseros
preconceitos.
Eis o motivo por que eu me deixei prender nos elos do
vosso gentil convite, e devo dizer-vos, sincero, quem fui, quem sou e quem
serei, vencendo o pórtico deste templo, repleto de
fulgores.
Quem fui? O débil rebento de um tronco bom e
sobretudo honesto, em cujo viver de espírito só de virtudes vi florirem, e
vícios nem de longe.
Eduquei-me sob o influxo do bem e tive por
complemento dos meus humildes e virtuosos genitores um excelente mestre,
conhecido de todos vos, que tem sido entre nós erguido em mil louvores, que nem
lhe podem dizer bem o seu merecimento entre os velhos, entre os moços e entre os
que recebem no presente o brilho de eleitos, fulgindo como um sol que incidisse nos pequenos cérebros
sequiosos de luz.
Do colégio, de que conservo vivo o exemplo do bom e
do honesto fui vencer o tirocínio superior, onde, por muito feliz, entre
docentes e condiscípulos tive desde o início, Orivindo, felinto, Leovigildo e
Guerreiro, homens sem deslizes, em meio de muitos outros discentes como
eu.
Tenho por mim neste recinto quem vos pode dizer se me
exprimo bem ou se sou sincero neste ponto.
Depois, colhidos os louros de um torneio vencido,
penetrei no mundo de desilusões, supondo, ingênuo que fui, fosse o viver um
eterno sofrer. Dentro em pouco, porém, vi que o sorriso dos moços nem sempre é
prenúncio de um futuro venturoso e sim o prólogo de um sofrer contínuo ou de um
existir repleto de
desgostos.
E eu sofri...
Sem que desperte dores no recesso do meu peito, eu
vos direi: fúnebre dobre de sino, ouvido por mim, filho extremoso, pelo espírito
desse que me deu o ser e que se foi, morrendo como um justo, entre outros golpes
bem fundos foi o primeiro que me fez sentir negrumes no viver. Superior, porém,
eu fui vencendo os óbices do existir
tendo como tive e felizmente tenho, consorte e filhos, meus enlevos, que me
impelem, cheio de vigor, pelo trilho em que me tenho conduzido neste mundo rico
de dores, e pobre mesmo, de momentos felizes como este, no vosso
convívio.
Quem sou? Um pequeno servo de Themis, que fiz do
Direito em si, o ponto em que reside mesmo o bem dos homens e que deus quis
fosse tido por nós, como virtudes e que dele mesmo nos viu, por intermédio dos
conhecimentos que todos devemos ter dos nossos
e dos direitos dos outros.
Eu vos disse no princípio, que tínheis feito de mim
um juízo imerecido,escolhendo-me vosso consócio. Disse e repito. Fostes bons e
fostes generosos em excesso.
Com o serdes gentis, erguestes m simples, cioso de
tudo, dos estudos que elevem e dignifiquem, por meio dos conhecimentos
científicos, vendo, ouvindo e lendo, como se, de cérebro sem luz, seguisse, sem
temores, no intuito de vencer.
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