quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

FEITO NO ESCURO

FEITO NO ESCURO...
 

Ele era branco, e ela branca,
Ambos claros como a luz...
Casaram. Baile de arranca,
E pagodeira de truz...
O mais formoso dos ninhos
Era a casa, à beira-mar,
Onde, como dois pombinhos,
Foram os dois arrulhar.
Só eles... e um cozinheiro,
Que era o crioulo Manuel,
Crioulo lesto e ligeiro,
Obediente... e fiel.
Ali, Amor assentava
Os seus doces arraiais,
E o mar, gemendo, invejava
Aqueles beijos... e o mais.
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Nove meses decorridos,
Uma notícia correu:
Escutaram-se os vagidos...
E o morgadinho nasceu!
Que horror! que espanto! o menino,
Filho daquela afeição,
Era belo e pequenino,
Mas... preto como carvão!...
O marido, ardendo em chama,
Fígado cheio de fel,
Quer, ali mesmo na cama,
Estrangular a infiel.
Ela, porém, que o conhece,
Pergunta: — “Você que tem?
“Você maluco parece...
“Reflita um pouco, meu bem!
“Bem lhe eu dizia, homem duro!
“Porém, você a teimar...
“Olhe! o que é feito no escuro,
“Sempre há-de de escuro ficar!
“Pois... o pobre pequenino...
“Feito de noite... bem se vê...
Cada qual tem seu destino....
“O culpado foi você...”.
Tudo acaba em alegria...
Mas o Manuel, no fogão,
Malicioso sorria,
E temperava o feijão.

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