segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

OS ANÉIS (Contos para velhos)

OS ANÉIS
A bela sociedade, a sociedade alegre, composta de rapazes e de
raparigas, estava reunida em roda da larga mesa da sala de jantar,
convertida em mesa de jogo. A velha mãe das raparigas, a gorda Sra.
Manuela Matias, bem sabia que aquelas noitadas de víspora e chá lhe
custavam os olhos da cara... mas que havia de fazer a Sra. Manuela Matias?
— morrera-lhe o marido, deixando-lhe aquelas seis filhas, e — com todos os
diabos! — era preciso casar as raparigas, pois não era? E ali estava a boa
viúva à cabeceira da larga mesa da sala de jantar, embrulhada no seu xaile
de ramagens, vigiando as filhas, que, ao lado dos namorados, iam cobrindo
com os grãos amarelos do milho os cartões do víspora...
Cacilda, a mais velha, (vinte anos, dizia ela; vinte e cinco, diziam as
más línguas) estava ao lado do louro Eduardo, um janota que, às vezes, no
flirt inocente com meninas solteiras, descansa das aventuras mais práticas
com as casadas... Juntos, juntinhos, inclinados sobre os cartões — tão
juntinhos que, de quando em quando, as suas cabeças se tocavam e seus
hálitos se confundiam... E os outros pares iam marcando os números... E
Cacilda e Eduardo — que caiporismo! — tinham os cartões descobertos,
tinham o monte de grãos de milho intacto, sobre a toalha da mesa... E a boa
senhora Manuela Martins, cochilando, embrulhada no seu bonito xaile de
ramagens, presidia àquele divertimento inocente. Então? era preciso casar as
raparigas, pois não era?
De repente, o louro Eduardo deixa escapar da garganta um grito de dor,
de angústia, de horror... E, muito pálido, o louro Eduardo aperta
apressadamente com as mãos a... barriga, enquanto Cacilda baixa a face
inundada de uma onda de rubor.
— Que foi?
— Que foi?
— Que foi?
— Nada... uma dor que me deu... já passou... já passou...
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E, à saída, depois do chá, o louro Eduardo confia ao seu amigo Américo
o segredo do seu grito. E Américo, entre duas risadas, indaga:
— ... com as unhas?
— Qual com as unhas, filho! com os anéis! Eu não sei para que é que
aquela rapariga quer tantos anéis na mão direita! Estou todo arranhado...

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